(Foto: National Post)
A REELEIÇÃO DE OBAMA, OS DESAFIOS PARA OS PRÓXIMOS QUATRO ANOS E A ESPERA PARA QUE O MELHOR REALMENTE VENHA
Os
Estados Unidos, cerca de uma semana atrás, reconduziram o democrata Barack
Obama a mais um mandato na presidência do País. No complicado sistema eleitoral
americano[1],
que leva em conta não o número de votos diretos, mas a quantidade de delegados
que cada Estado possui no colégio eleitoral, Obama obteve 332 votos, contra 206
de seu adversário, o republicano Mitt Romney.
Num
discurso de vitória emocionante – como de costume, dados a eloquência e o
carisma do líder estadunidense –, Obama reafirmou os ideais de liberdade, de
trabalho e de persistência como alicerces fundamentais da nação americana.
Declarou-se para a sua mulher, Michelle, falando não apenas em seu nome, mas no
de toda a população que admira a popular e encantadora Primeira-Dama.
Parabenizou seus adversários Romney e Ryan pela (disputada) campanha,
prometendo buscar coalizão com as lideranças políticas de ambos os partidos
para que trabalhem juntos pela América. Fez também questão de se dizer renovado
em sua volta à Casa Branca para um segundo mandato, assegurando à esperançosa
nação que “o melhor está por vir” [2].
No
entanto, a despeito da boa vontade do simpático Presidente, a situação política
do fim de seu atual mandato e as perspectivas sociais, econômicas e políticas que
se mostram no horizonte levam a crer que o melhor poderá, de fato, vir, embora
seja muito pouco provável que venha de maneira simples e rápida. Isso se dá
pelo fato de que, conquanto se sinta revigorado para enfrentar mais quatro anos
à frente do País, a maioria dos grandes desafios da próxima gestão de Obama é
de problemas antigos e conhecidos, enquanto os novos desafios, por sua vez, se
mostram de resolução pouco fácil.
Embora
o democrata haja discursado sobre sua crença na união da população pelos ideais
de crescimento e recuperação do País (e sobre sua descrença acerca do que se
comentará em seguida), a divisão política entre os americanos é, de fato, cada
vez mais evidente. Estas eleições, por si, são capazes de comprovar esse
pensamento, uma vez que republicanos fizeram maioria na Câmara e democratas obtiveram
mais cadeiras no Senado, em um dos pleitos mais acirrados da história dos
Estados Unidos. É válido salientar que essa falta de unidade atravancou
bastante a aprovação de diversas propostas do Presidente nos últimos quatro
anos, como se verificou com as discussões sobre “a grande barganha” [3] e
sobre a reforma da saúde, com o polêmico “The
Patient Protection and Affordable Care Act”, “carinhosamente” (aspas
propositais) apelidado de “Obamacare”
[4].
Da
mesma forma, por mais pessimista (embora realista) que possa parecer, as
previsões dizem que tais impasses devem permanecer e que a aprovação de
qualquer medida mais drástica somente seja conseguida – se for conseguida – com
muita discussão e com enorme barganha política, o que por si é delicado, haja
vista que nenhum dos dois lados parece tendencioso a fazer concessões ao outro.
Com efeito, matérias importantes podem ter suas soluções postergadas, o que
pode gerar consequências desastrosas à recuperação americana.
Obama
terá que enfrentar, ainda nesse mandato, questões como o “abismo fiscal” [5] – previsto já para 1º de
janeiro de 2013. O termo é utilizado para denominar uma combinação de aumento
de impostos com corte nos gastos públicos, que pode levar a Economia americana
a um novo estado de recessão, no qual as taxas de desemprego voltariam a subir,
e a um déficit fiscal crescente, que, em duas décadas, poderia levar a uma
crise generalizada e a uma dívida pública elevadíssima.
Obama
sabe que essa situação evidencia, dentre outros, a patente necessidade de uma
reforma tributária e um imprescindível corte em gastos públicos desnecessários
ou prescindíveis – a desejada diminuição no orçamento militar é sempre lembrada
nessa discussão. Sabe que a falha – ou mesmo a demora – na resolução de assuntos
de tal urgência pode ter consequências irreparáveis à economia estadunidense.
Sabe, também, que precisa encontrar – o quanto antes – uma resposta para essas
questões.
Ainda
no tocante à Economia, o Presidente reeleito terá que buscar, no novo mandato,
maneiras de acelerar a tímida (mas já perceptível) recuperação que vem
acontecendo nos últimos tempos, com a lenta valorização do mercado imobiliário
e o moroso, mas existente, aumento na criação de empregos. Contudo, a
supramencionada divisão política em Washington e o desconfortante cenário
internacional de crise na Europa e de pressão dos mercados asiáticos não
parecem ser fatores que irão facilitar a vida do democrata.
Outro
ponto que deve ser comentado diz respeito à política externa dos Estados
Unidos. Assuntos como a demora na “estabilização” interna do Iraque – que já
trouxe incontáveis críticas ao Presidente –; a resolução do conflito
Palestino-Israelense – envolvendo desde assentamentos judaicos até o
reconhecimento do Estado da Palestina –;
a retirada das tropas americanas do Afeganistão; e a “redução da
dependência de petróleo estrangeiro” – como afirmou em seu discurso – devem ser
enfrentados por Obama nos próximos quatro anos. Imprescindível também mencionar
a questão do Irã e de sua atividade nuclear, que é central para todos os pontos
mencionados: impedir o programa nuclear iraniano sem a necessidade de
intervenção militar e sem o estabelecimento de uma desconfortante crise
internacional será, com toda certeza, o maior dos desafios externos de Obama em
seu novo e próximo mandato.
Em
seu discurso da vitória, Obama também levantou temas como a saúde pública, que
leva inevitavelmente à discussão sobre a reforma do Medicare [6],
intensamente debatida durante a campanha presidencial e que, por óbvio, também
não poderá ser descartada, da mesma forma que não o serão outros assuntos
importantes, e não menos polêmicos, a exemplo da reforma na lei de imigrações, que
se mostram como desafios de inegável importância para o carismático líder
americano.
Por
fim, a despeito do novo mandato e da força renovada, os desafios de Obama são,
em grande parte, antigos, além de numerosos e difíceis. No entanto, esperança,
vontade e disposição, além de simpatia e admiração da aparente maioria da
comunidade internacional não lhe faltarão. Resta, pois, assistir para saber se
o melhor realmente virá e, especialmente, como e quando virá. Boa sorte,
Presidente.
Jáder
de Figueiredo Correia Neto
Vice-Secretário-Geral
da SONU 2013
_____________________
REFERÊNCIAS
[1] Para entender melhor o sistema,
vale visitar o simples e divertido infográfico feito pelo portal Terra: <http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/eleicoes-eua-entenda/>.
[2] Íntegra do discurso, traduzido
para o português: <http://blogs.estadao.com.br/radar-global/a-integra-do-discurso-da-vitoria-de-barack-obama/>
[3] Interessante matéria do “The New
York Times” acerca do assunto: <http://www.nytimes.com/2012/04/01/magazine/obama-vs-boehner-who-killed-the-debt-deal.html?pagewanted=all>.
[4] Mais detalhes sobre o
funcionamento do “Obamacare” em: <http://obamacarefacts.com/whatis-obamacare.php>.
[5] Para entender um pouco melhor
sobre “the fiscal abyss” (“o grande abismo”):
<http://www.foxnews.com/opinion/2012/11/12/off-fiscal-cliff-and-into-great-abyss/>.
[6] Sobre o assunto, interessante
analisar entrevista com Paul Ryan, candidato à vice-presidência pelo Partido Republicano,
na qual ele menciona sua estratégia pautada no livre mercado para a recuperação
do Medicare. Tal proposta, é imperioso
salientar, é bem anterior à candidatura, originária de sua época no Congresso. <http://www.humanevents.com/2012/08/11/how-to-save-medicare/>.
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